quinta-feira, 3 de março de 2011

O SENTIDO DRAMÁTICO DO ENSINAR E DO APRENDER.

O SENTIDO DRAMÁTICO DO ENSINAR E DO APRENDER.

                                                                                     Madalena Freire

        O educador educa a dor da falta. Educa a fome do desejo.
        O educador educa a dor da falta cognitiva e afetiva para a construção do prazer. É da falta que nasce o desejo. Educa a aflição da tensão, da angústia de desejar. Educa a fome do desejo.
       Um dos sintomas de estar vivo é a nossa capacidade de desejar e de nos apaixonar, amar e odiar, destruir e construir.
       Somos movidos pelo desejo de crescer, de aprender, e nós, educadores, também de ensinar.
       Instrumental importante na vida do ensinar do educador é o ver (observação), o escutar e o falar. Assim como, para estar vivo, não basta só o coração batendo, para ver não basta estar de olhos abertos.
      Observar, olhar o outro e a si próprio, significa estar atento buscando o significado do desejo, acompanhando o ritmo do outro, buscando sintonia com este.
      A observação faz parte da aprendizagem do olhar que é uma ação altamente movimentada e reflexiva.
     Ver é buscar, tentar compreender, ler desejos. Através do seu olhar, o educador também lança seus desejos para o outro.
    Para escutar não basta, também, só ter ouvidos. Escutar envolve receber o ponto de vista do outro (diferente ou similar ao nosso), abrir-se para o entendimento de sua hipótese, identificar-se com sua hipótese, para compreensão do seu desejo.
    Para falar, não basta ter boca, é necessário ter um desejo para comunicar, pois todo o desejo pede, busca comunicação com o outro. Também, todo o desejo é o desejo do outro. É o outro que me impele a desejar...
    É na fala do educador, no ensinar (intervir, desenvolver, encaminhar), expressão de seu desejo casado com o desejo que lido, compreendido pelo educando, que ele tece seu ensinar.
    Ensinar, aprender, construir conhecimento, são movidos pelo desejo e pela paixão.
    Algumas vezes, a chama do desejo pode estar baixa, quase apagando...espaço onde o educador necessita reaviva-la com intervenções explícitas. Outras vezes pelo contrário, necessita educar, limitar a força desorganizada e até destrutiva da chama...
    Desejo e paixão que, através do ensinar e do aprender, são educador.
    Desejo e paixão de vida.
    Forças em luta permanente dentro de nós.

    (Texto extraído do livro “Avaliação e Planejamento: a prática educativa em questão”)

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