segunda-feira, 7 de março de 2011

construção do conhecimento

Capítulo I

PIAGET - A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

                                                                        
Psicólogo e biólogo suíço, Jean Piaget (1896 - 1980), é reconhecido como a maior autoridade do século sobre o processo de funcionamento da inteligência e das estruturas cerebrais de aquisição do conhecimento.
Suas pesquisas científicas deram grandes contribuições  para a desmistificação do processo de aquisição da linguagem escrita, embora não ambicionasse construir uma teoria pedagógica,  suas idéias têm sido referenciais para uma proposta de ensino bem elaborada. Seu trabalho foi fundamental para a inserção do indivíduo no mundo letrado, pois suas análises científicas sobre a epistemologia genética é que fundamentaram a psicogênese da língua escrita.
Piaget explica a interação pelos conceitos de assimilação, acomodação e adaptação. Do equilíbrio desses processos advém uma adaptação ao mundo cada vez mais adequada e uma conseqüente organização mental. O autor ainda alerta para o fato da estruturação cognitiva, onde conhecimentos novos abrem caminhos para novas possibilidades, descartando a tese  do conhecimento ser pré- estabelecido geneticamente. Admite ainda a importância da influência do meio no desenvolvimento intelectual e na integração dos saberes.
Piaget reforça a sua tese sobre a importância do construtivismo na formação integral do ser humano como algo que possibilita um adequado caminho da aquisição da linguagem escrita, contestando o inatismo que defende a idéia de que o indivíduo nasce pronto.
"Assiste-se por toda parte a uma falência do ideal de dedução integral que implica a pré-formação, e isso em proveito de um construtivismo cada vez mais evidente". [1]
Segundo a tese piagetiana, o desenvolvimento cognitivo é um processo seqüencial onde a interação tem importante papel no desenvolvimento das operações lógicas, pois influencia significativamente a visão de mundo do sujeito,  permitindo-lhe evoluir de uma perspectiva subjetivista para a objetividade; este processo não é inato. Segundo o autor:
"O desenvolvimento é um processo seqüencial marcado por etapa; embora a seqüência do desenvolvimento seja a mesma para todas as pessoas, a cronologia é variável de pessoa para pessoa".[2]

O autor argumenta que a criança apresenta características próprias de acordo com a sua idade, conseqüentemente o desenvolvimento intelectual ocorre por meio de organização e adaptação, enfatizando ainda o papel estruturante do sujeito. Maturação, experiências físicas, transmissões culturais e equilibração são fatores do desenvolvimento cognitivo desenvolvidos na sua teoria.
Com os mecanismos que se apresentam desde o nascimento, os indivíduos vão construindo seu modo de agir, pensar e sentir. Estabelecem  sua visão de mundo e adquirem conhecimento, sendo que cada homem é agente do seu processo de desenvolvimento.
O  conceito central de construtivismo, baseado nas pesquisas genéticas de Jean Piaget, considera que as crianças são pensadoras ativas, tentando sempre constituir novas estratégias e entendimentos avançados e explicar os processos de desenvolvimento e aprendizagem como resultados da atividade do homem na interação com o ambiente.
"A inteligência, para Piaget, é um caso particular de adaptação biológica. Numa interpretação oposta ao empirismo encontramos uma explicação que pode ser caracterizada como apriorista ou inatista, que concebe o conhecimento como sendo pré-formado no sujeito, dependendo apenas de maturação e um mínimo de experiências. Esta posição aparece contemporaneamente em Kant e Chomsky".  [3]

De acordo com o inatismo, as crianças já nascem com estruturas mentais pré-formadas que se manifestarão em momentos específicos do desenvolvimento. Piaget não admite a hipótese empirista, nem a inatista, pois o sujeito não é passivo nem pré-formado, mas interage com o meio e nesta interação constrói o conhecimento através de descobertas e invenções.
Segundo Jean Piaget não se pode analisar homem e mundo isoladamente. "O ser humano como sujeito em interação com o meio deve ser descrito como sistema aberto que constrói progressivamente o conhecimento ao agir sobre os objetos incorporando elementos novos."[4]
De acordo com o referido autor, o desenvolvimento cognitivo é um processo que se realiza em todo ser humano. Nas palavras de Piaget " os diversos aspectos do comportamento intelectual são reações fenótipicas e um fenótipo é o resultado de uma interação entre o genótipo e o meio."[5]
Essa compreensão sobre o modo como o aluno pensa, e o que entende a respeito da leitura e escrita é de fundamental importância para  aquisição do saber institucional, já que um dos paradigmas deste saber é pautado na humanização e socialização do indivíduo. É de vital importância o conhecimento do educador sobre o modo como os educandos estão constituindo suas reflexões sobre a língua escrita, sendo primordial para alfabetização o conhecimento das condições internas prévias, pois é a partir desse conhecer que o educador terá  possibilidade de estabelecer propostas coerentes de avanços na aquisição da linguagem escrita.






Capítulo II

VIGOTSKY - SÓCIO-INTERACIONISMO


Numa pesquisa científica sobre aquisição da linguagem escrita, não se pode deixar de dar o merecido apreço às contribuições e progressos alcançados nessa área  por intermédio das pesquisas do autor soviético Lev Semenovich Vigotsky.
A abordagem vigotskyana, é conhecida como abordagem histórico-cultural do desenvolvimento humano. Esta vincula o desenvolvimento humano ao  contexto cultural no qual o indivíduo se insere e à influência que o ambiente exerce sobre a formação psicológica do homem. Diz uma conhecida estudiosa do autor: "O desenvolvimento cognitivo das crianças é consideravelmente favorecido pelas interações sociais".[6]
Vigotsky fundamenta  que o desenvolvimento está alicerçado sobre o plano das interações. Há uma inter-relação entre o  contexto cultural, o homem e o desenvolvimento, pois esse se dá do interpsíquico para o intrapsíquico, ou seja, primeiro se dá o desenvolvimento cognitivo, no relacionamento com o outro,  para depois ser internalizado individualmente.  Esse processo significa que o desenvolvimento ocorre exteriormente para depois ocorrer efetivamente no interior do indivíduo. Sendo assim, sem influência mútua não há desenvolvimento.
Sua proposta é conhecida também como sócio- interacionista, pois o desenvolvimento histórico acontece do social para o individual.
"O ser humano só adquire cultura, linguagem, desenvolve o raciocínio se estiver inserido no meio com os outros. A criança só vai se desenvolver historicamente se inserida no meio social".[7]
Vigotsky fez seus estudos baseando-se no materialismo-histórico-dialético de Marx e Engels que afirmavam que as mudanças históricas sociais ocorridas dentro de uma sociedade, influenciam o comportamento dos indivíduos. Por isso Vigotsky afirma que o homem só se constrói homem nas suas relações sociais, pois é na vivência em sociedade que acontece a transformação do ser biológico para o ser humano. As informações nunca são absorvidas diretamente do meio, mas elas são intermediadas, direta ou indiretamente pelas pessoas que nos cercam, e que são carregadas de significados sociais e históricos. essas informações intermediadas e reelaboradas se concretizam numa espécie de linguagem interna, e caracterizará a sua individualidade.
Vigotsky buscou caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como estes se formaram ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida de um indivíduo. Ao longo do tempo, o homem foi desenvolvendo novos e mais aperfeiçoados instrumentos para melhorar sua condição de vida; e o uso destes tem como principal conseqüência psicológica provocar interações sociais e conseqüentemente o desenvolvimento histórico.
Vigotsky enfatiza o aspecto interacionista, pois considera que é no plano intersubjetivo, isto é, na troca de experiências entre as pessoas que têm origem as funções mentais superiores.
Vigotsky caracterizou a chamada zona de desenvolvimento proximal, que é a distância entre o que se pode fazer sozinho e o que se faz com a mediação de outra pessoa, ou de signos. O que novamente valida a importância de conhecer o contexto social no qual o indivíduo está inserido, para entender  a maneira como estrutura seu pensamento. Sendo essas medidas essenciais para iniciar e nortear um processo significativo de alfabetização, onde o aluno seja capaz de relacionar aprendizagens anteriores às atuais e não apenas decodificar signos.
Como Jean Piaget, Vigotsky também não acredita no processo simples de estímulo e resposta, pois, o que ele buscava  era o conflito entre as concepções idealista e mecanicista na psicologia. Esses modelos,de estímulo-resposta, condizentes com o behaviorismo,  em sua teoria são substituídos por um ato complexo, mediado por instrumentos psicológicos que podem aumentar a capacidade de atenção e memória, onde o aprendizado impulsiona as estruturas mentais. Observa o desenvolvimento infantil a partir de três aspectos: instrumental, cultural e histórico. Enquanto Piaget dá ênfase no papel estruturante do sujeito, pois considera o desenvolvimento da criança como dependente sobretudo da interação com objetos, Vigotsky enfatiza as interações entre os indivíduos e os instrumentos criados por estes para se relacionarem com o conhecimento.
Essa discussão sobre as relações que se estabelecem entre o desenvolvimento e a aprendizagem é fundamental para que se entendam, proponham e organizem diretrizes para a aquisição da linguagem escrita, pois subsidiam essa cognição essencialmente fundamentada no ensino e na aprendizagem.
A análise do ponto de vista desses dois autores ajuda   a direcionar esta pesquisa  sobre o que é aprender e o que é ensinar, considerando que o ser humano não é passivo, não nasce pronto, e interage com o meio e com as pessoas que o cercam.
Fundamentando-se na perspectiva de Jean Piaget e Lev Semenovith Vigotsky,  tanto se faz importante a interação com outrem como a interação com objetos para análise na  aquisição da linguagem escrita. Consideram-se os dois aspectos levantados pelos autores primordiais para alfabetização. A escrita toma a qualidade de "objeto", tal qual descrito por Jean Piaget, sendo a "interação" de Vigotsky  que torna possível relacionar conhecimentos anteriores, fazer analogias com o concreto e estabelecer vivacidade à erudição.





Capítulo III

EMÍLIA FERREIRO - OS NÍVEIS  ESTRUTURAIS DA    AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA

Nas últimas décadas, a educação no Brasil tem transposto períodos reflexivos que culminam numa idéia: a educação precisa mudar. O tema é mesmo corrente e continua atual. Não é mais uma questão de opção ou de postura  dos profissionais da educação, mas trata-se de uma exigência da sociedade, que cada vez mais prega a mudança da educação visando que esta seja de qualidade, tendo significado para o educando.
A partir de 1989, essas mudanças ficaram mais evidentes  pelo interesse demonstrado pelos brasileiros nas pesquisas de Emília Ferreiro. Esta autora, discípula de Jean Piaget, desenvolveu uma teoria científica embasada não só nesse autor, mas também em outras pesquisas científicas precedentes, porém compatíveis, como a de Lev Semenovith Vigotsky.
"Numa abordagem cognitiva construtivista-interacionista  do conhecimento, baseados fundamentalmente na Epistemologia Genética Piagentiana e Vigotskyniana, e na Psicolingüística (de Chomsky e outros), Emília Ferreiro e colaboradores vêm estudando desde 1974, em Buenos Aires e a partir de 1976, em Genebra e México, os estágios de conceptualização escrita e o desenvolvimento da lecto escrita." [8]

         O caráter dessas investigações é psicológico e não pedagógico, mas, de certa forma, vem revolucionando a prática pedagógica, principalmente no tocante à alfabetização. A referida autora contrapõe as idéias instituídas sobre a aquisição da linguagem escrita. Muitos paradigmas que estruturavam a prática pedagógica foram questionados e os pilares que sustentavam essa ação foram desestruturados e colocados em questão.
Num artigo escrito para revista pedagógica Pátio, Emília afirma que comparou a evolução da escrita na história da humanidade e na história individual, concluindo que "para alcançar uma escrita é necessário uma reflexão sobre a linguagem oral e escrita, o que permitirá tomar consciência de algumas propriedades fundamentais de ambas".[9]
Pressupõe-se que a autora considera relevante que o aluno expresse seu pensamento a cerca da escrita para que, sob as intervenções cabíveis, seja induzido a ponderações sobre a linguagem escrita e oral que o conduzem a norma padrão da língua.
Emília Ferreiro aplicou sua teoria de investigação de aprendizagem da leitura e da escrita em crianças, e constatou que cada criança aprende segundo sua lógica. Fato esse abordado nas teorias do desenvolvimento de Piaget e Vigotsky, que já advertiam que o desenvolvimento cognitivo é um processo seqüencial marcado por etapas caracterizadas por estruturas mentais diferenciadas. Embasada no legado dos referidos autores, Emília  estudou minuciosamente a aquisição da linguagem escrita. Sendo um processo que envolve elaboração e evolução cognitiva, parece natural que o processo de domínio do letramento, assim como o desenvolvimento seja composto por níveis de estruturas mentais diferentes. Assim ela distinguiu os níveis  pelos quais todos passam durante o processo de aprendizagem da escrita.
Em suas análises, que foram de fundamental importância para a mudança das composições e concepções sobre o modo como as crianças aprendem,  a referida autora delineou os níveis estruturais da aquisição da linguagem escrita da seguinte forma:
 1) Nível Pré-Silábico 1 -  É a fase das garatujas, onde a criança não tem idéia da existência de um sistema convencional de representação da fala, e se expressa através de desenhos.
 2) Nível Pré-Silábico 2 - A criança já conhece algumas letras do alfabeto e já assimilou que se escreve com letras do alfabeto.  É capaz de diferenciar gravuras de letras e números, e vai percebendo que  é preciso variar os caracteres para obter palavras diferentes
3) Nível Silábico - pode ser dividido entre silábico com valor sonoro, silábico sem valor sonoro e silábico alfabético
4) Nível Silábico sem valor sonoro - como o próprio nome já sugere,  a criança não leva em conta o som das letras. Compreende que há diferenças na representação escrita, utiliza-se do alfabeto para escrever, mas ainda não assimilou a forma padrão da grafia convencional. Escreve com a quantidade de letras corretas para representar uma palavra mas sem levar em conta o som que as letras produzem.
5) Nível Silábico com valor sonoro - Admite que a escrita convencional está relacionada com o "som" das palavras, o que a leva a sentir a necessidade de usar uma forma de grafia para cada som. Utiliza os símbolos gráficos de forma aleatória, usando apenas consoantes ou só vogais. O grande salto dessa fase está em relacionar a linguagem oral à linguagem escrita e, definitivamente constituir a idéia de um sistema convencional de escrita.    
6) Silábico- Alfabético - Convivem as formas de fazer corresponder os sons às formas silábica e alfabética. A criança oscila entre os dois níveis e tanto escreve silabicamente como alfabeticamente.
7) Nível Alfabético- a criança agora entende que a  escrita supõe a necessidade da análise fonética das palavras.
Os níveis acima descritos foram observados e analisados numa escola da rede municipal de ensino, situada no Bairro JK, na cidade de Anápolis. Na referida Unidade de Ensino funcionam atualmente três salas do 1º Ano do Ensino Fundamental em 9 anos, com crianças entre 5 e 7 anos de idade .
A metodologia utilizada para alfabetizar as crianças é sócio interacionista, sendo que o regimento escolar e o projeto político pedagógico respaldam práticas construtivistas e progressistas de modo que estas crianças trabalham muito com reflexão sobre a escrita e o diagnóstico para análise das escritas é realizado mensalmente.
Fundamentando-se em casos específicos, de observação e análise na escola-campo E.M.P.T.B.V., pode-se comprovar a real existência desses níveis através de amostras de escritas coletadas ao longo do processo de aquisição da linguagem escrita, revelando ainda a seqüência em que os níveis estruturais aparecem.[10]
A teoria de Emília abriu caminho aos docentes para a base científica nas formulações de novas propostas pedagógicas, demonstrando que é importante  conhecer o que o alfabetizando  pensa e sabe sobre a escrita, sendo possível através desse diagnóstico a reestruturação do ensino.
A autora desconsidera teorias pautadas no "ensinar", para dar espaço ao questionamento de "como se aprende" a ler e escrever. As teorias dominantes preocupam-se em desenvolver a aula, que é pautada na reprodução fiel de signos, sem considerar seus significados. O que se observa nesse tipo de metodologia é o professor a frente da sala, usando método expositivo, sem dar a devida relevância às estratégias de verificação daquilo que o aluno realmente internalizou sobre a escrita. A teoria de Emília Ferreiro possibilitou que através das hipóteses levantadas pelos alunos, o professor pondere a escrita individual, respondendo questionamentos importantes como: o que a criança já sabe sobre a escrita? Ela já relacionou fala e escrita? Já sabe que para escrever utilizamos letras?
Estes questionamentos irão nortear o ensino na aquisição da linguagem escrita, sempre partindo daquilo que o aluno já aprendeu e não pautada no que o professor já ensinou ou ainda vai ensinar.
Quando se faz um diagnóstico, pressupõe-se que a forma como o indivíduo se expressa graficamente é o reflexo do pensamento, do conhecimento que este possui sobre a escrita. Assim o educando passa a ser visto como sujeito e não um ser passivo que apenas acumula dados ou informações que lhe são passadas, para posteriormente utilizá-las. Portanto, cabe ao professor possibilitar oportunidades para a promoção efetiva da aprendizagem do aluno, respeitando sua individualidade e incentivando suas potencialidades, encorajando o aluno a criar suas próprias hipóteses em relação ao objeto do conhecimento, no caso, a escrita.   
Condizente com as teorias piagetianas e vigotskynianas, a referida autora faz analogia com a fala de Piaget que propõe: "uma nova maneira de encarar o ensino, que consiste em verificar como está o aprendiz e o que fazer para que ele progrida a partir do ponto em que está ".[11]
Segundo a psicogênese da linguagem escrita, a criança elabora hipóteses sobre a escrita que devem ser levadas em consideração, pois é  um ser pensante que tem suas lógicas. As atividades devem desafiar o pensamento  e gerar conflitos cognitivos que  ajudem a buscar novas respostas.
Desde a mais tenra idade as crianças são inseridas num mundo letrado, ou seja, desde seu nascimento elas já convivem cotidianamente com letras, cores, símbolos, o que pressupõe que após um certo desenvolvimento, cada indivíduo elabora uma temática a respeito do significado dos símbolos que a cercam. Crianças que ainda não lêem são capazes de se expressar através de garatujas e quando questionadas sobre as mesmas todas elas têm um argumento para explicar a lógica que compõe seu tipo de escrita. Segundo Emília Ferreiro e em testes aplicados se consideram as deliberações das crianças com uma certa lógica. Quando estas se encontram no nível silábico, escrevem uma letra para representar cada som da palavra. Para escrever CAMELO, utilizam CML ou AEO; não se pode negar a lógica de tal escrita, haja vista que esta considera os sons pronunciados e relaciona letra ao som, isto significa que há uma lógica no pensamento da criança que já sabe que para escrever utilizamos letras e  que a escrita é a representação da fala.
Os avanços serão obtidos mediante conflitos cognitivos. A criança deve ser conduzida, questionada de forma a problematizar a sua própria escrita. Isso se fará através de atividades que a levem a comparar, refletir sobre a função social da escrita.
Os conflitos cognitivos devem ser dirigidos de forma que o aluno que já se encontra na fase silábica compare sua escrita e a escrita convencional, percebendo as diferenças entre essas. Pode-se utilizar fichas, dicionário e outras tipologias textuais, porém, a intervenção do educador é determinante nesse processo, pois esse deve chamar atenção para o som que se quer transcrever, reforçando a quantidade de letras utilizadas. Deve-se oferecer ao aluno alfabeto móvel, para que o aluno manuseie o alfabeto e internalize que este é variável, e que com as mesmas letras escrevemos palavras diferentes  com significados diferentes apenas mudando a posição das letras. Exemplo: VACA / CAVA. É notório que a participação e acompanhamento contínuo se fazem essenciais.
A escrita deve  ser problematizada a partir da função social da mesma, ou seja, deve partir de questionamentos: para que, por que e para quem escrevemos? Qual a utilidade da escrita na vida em sociedade? Isso pode ser demonstrado e percebido pelos alunos através da utilização e exploração de diferentes gêneros textuais: jornais, cartas, bilhetes, slogans, receitas, bulas de remédio, rótulos e outros. Enquanto alunos que estão em fase de alfabetização escrevem um bilhete  e entregam a alguém, percebem nessa prática que a utilidade social deste é comunicar idéias e pensamentos a outrem. Se lêem ou ouvem a leitura de um jornal são capazes de entender que a utilidade do mesmo é informar. Assim irão se familiarizar com a utilidade da escrita no seu cotidiano.
O contato direto com tipologias textuais diversificadas aliada a prática real da utilização dos mesmos permitem ao indivíduo que ainda não se apropriou do código escrito entender porque escrevemos, bem como reconhecer nestes textos sinais, letras, palavras que já conhecem e, para os que se encontram num estágio mais avançado (silábico alfabético, por exemplo verificar se a forma como escrevem determinadas palavras ou textos é correta.
Dessa forma a aquisição da linguagem escrita torna-se um processo significativo, pois os alunos, a medida que vão conhecendo o código escrito relacionam a utilidade dessa no cotidiano, na sociedade e na vida.     







[1] PIAGET, Jean. Epistemologia Genética.Tradução de Álvaro Cabral: revisão de tradução Wilson Roberto Vacari. São Paulo: Martins Fontes, 2002

[2] GOULART, Iris Barbosa. PIAGET - Experiências básicas para utilização pelo professor. São Paulo: Vozes, 11ª ed.

[3] CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da Aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1986.

[4] GOULART, Iris Barbosa. PIAGET - Experiências básicas para utilização pelo professor. São Paulo: Vozes, 11ª ed.

[5] GOULART, Iris Barbosa. PIAGET - Experiências básicas para utilização pelo professor. São Paulo: Vozes, 11ª ed.

[6] BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 9ª e., 2003.

[7] VIGOTSKY, Lev Semnovich. A Formação da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991

[8] FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.

[9] Revista Pátio. Porto Alegre: Artmed. Ano VII nº 29. Fevereiro/Abril, 2004
[10]  Ver anexo
[11]  GOULART, Iris Barbosa. PIAGET - Experiências básicas para utilização pelo professor. São Paulo: Vozes, 11ª e.

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